domingo, 12 de dezembro de 2010

Todo mundo é parecido quando ama alguém


Em síntese, o amor é brega. Como música de dores arrependidas, como versos insensatos sobre corações partidos. Em suma, o amor é comum, como o ar que se respira, despido de complexidades teóricas e fundamentos astrológicos pertinentes a mentes ansiosas.
Cantar o amor é cantar promessas e juras de sentimentos, cantar melodias que se tornam bobas ao passar do tempo, mas que tem toda a intensidade e relevância para aquele determinado momento presente. Porque o amor é presente, importante e contundente, inerente a qualquer
pessoa, por mais idiota que seja.
O amor não se conjuga com a sanidade. Maluco, pira em si mesmo, se enlouquece na sua própria pureza e melancolia. Inebria-se com o ciúme sem motivo, com a razão perdida, com palavras jogadas ao vento e escritas em papéis rasgados.
O amor é tolo porque guarda nomes, rostos e bilhetes como se fossem registros eternos de uma mente sem lembranças.
O amor esquece, perdoa, tenta de novo, e de novo, e de novo.. e mais do que qualquer outra coisa, acredita em si, como se fosse poção mágica, como se fosse o poder supremo, o raio de luz que brilha em densas trevas. Como se fosse um dom, único, incomparável, milagroso. Se supõe, inclusive, que o amor seja a cura para todo mal.
E o mal, como espinho em nossa carne, grita alto pela cura: o amor, o curativo, o remendo para um espírito rasgado.
Mais do que um conceito disperso, o amor está bem expresso em versos e palavras aparentemente sem sentido que encontram o seu real significado em corações receptivos que abrigam este ser estranho e natural.
Em síntese, o amor é essencial.




Andinho

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O meu caso é futurista


Seria como soltar balões coloridos em dias tempestuosos. É curioso como cada coisa dura a eternidade do seu objetivo.
Parece que se esvai duma forma repentina, se parte em quantas partes provavelmente se perderiam em meios quaisquer.
Gosto de sentir o sabor do meu amargo, o gosto do meu desgosto. E tratar noites de inverno como preâmbulos do dia seguinte.
Se eu ensaiasse minha vida ela não sairia tão imperfeita como se propõe que seja. Ao menos minha alma morreria calada nos seus mistérios, presa no encalço da sua própria contradição.
De lá me atiro como se fosse um tiro na minha escuridão. De olhos fechados, em um salto ligeiro sobre o descaso dos que me viram as costas em palanques floridos.
Não quero cantar o terror do meu retrocesso. Quero apenas o que de direito me pertence, sem precisar de grandes reinvidicações ou motins paralelos.
Se seus olhos não encontram minha insatisfação, acho melhor fechar meu espírito e trancafiá-lo em verdes pastos por onde um dia pretendo caminhar.
A esperança seca minha revanche, endurece minha ira e cala meu grito comum. Me faz olhar para amanhã e mais além.
Porque lá fora minha fantástica nave voa sozinha e em silêncio, em tempos claros ou escuros, entre estrelas, cometas e sistemas completos, e assim deve continuar. Sem meu sopro de euforia, sem meu ar agora contido, retido, esperando cada volta ser o recomeço que um dia eu pensei alcançar.




Andinho

domingo, 4 de julho de 2010

Cada volta é um recomeço

Havia um tempo que eu gostava de fazer músicas. Sempre tive esse ímpeto criativo, mesmo antes de saber tocar violão ou qualquer instrumento musical. Me divertia fazendo uns barulhos quaisquer em um teclado velho que eu tinha. Quando aprendi a tocar violão melhorou um pouco.
Certa vez, fiz uma música que começava com uma frase que dizia: "Cada volta é um recomeço..."
Preciso dizer que, depois de tantos anos, quando revejo todas as coisas que escrevia ou mesmo as tais músicas, considero a maioria como uma coisa boba e idiota.
Mas dizer que "cada volta é um recomeço" talvez tenha mais importância para mim hoje do que em qualquer outra época.
Nesse momento estou pensando sobre o que mais me impressiona: a busca sem fim por começos e recomeços ou as capacidades que perdemos ao longo do tempo.
Antes eu escrevia músicas, poesias, textos criativos e bem elaborados. E hoje simplesmente não consigo mais fazer isso. Antes eu jogava futebol muito bem, e nem isso eu consigo mais fazer direito. Nem mesmo meus olhos enxergam tão bem quanto antes.
Qual é o contrário de evolução?
Existe uma falha naquela teoria. Assim como existe uma falha nas minhas pretensões. Enquanto sinto falta de um sorvete de flocos que se compra na sorveteria do bairro numa tarde de domingo, vivo a minha inexistência rodeado de pessoas que ignoram minha visibilidade. Talvez aquele desejo de criança de se tornar o homem invisível esteja sendo realizado hoje.
Os desejos de hoje são um pouco mais possíveis. Como a mudança, a partida, a fuga, o sumiço, a viagem pela nova possibilidade, pelo velho mundo, pelo espaço em branco.
São muitas possibilidades. Afinal, cada volta é um recomeço, e existem vários recomeços. O comportamento do "pós" dependerá de um estado de espírito tão previsível quanto possivelmente surpreendente.
Minha teoria sobre isso? Não sei. Ando sem criatividade para dizer algo sobre isso, e minha vista está um pouco cansada.




Andinho

terça-feira, 6 de abril de 2010

Deixa eu dizer

Quero falar sobre dois sentimentos. Assim, abertamente. Claramente. Sem muitas delongas, ou sem procurar palavras. As palavras nesse momento me encontram. Em qual estado? Arrependido, eu diria.
E que raio de sentimento desgraçado é esse tal de arrependimento, que faz a gente remoer coisas passadas, ditas, não ditas, pensadas, faladas, demonstradas, caladas, expressas das mais diversas formas, válidas e inválidas, burras e poéticas?
Qual é o pior dos arrepedimentos? Aquele sobre algo que fizemos ou sobre algo que deixamos de fazer? Qual é o pior dos arrependimentos? Arrependimento físico ou arrependimento sentimental? Qual é o pior dos arrependimentos? Seria o arrependimento amoroso? Abraços, beijos, conversas bobinhas que duram horas... coisas belas que duram a eternidade de dois dias, duas semanas ou dois meses. E depois você, com aquela cara falsa e orgulhosa, olha tudo, como se tudo aquilo fosse restos de alguma coisa inútil, e diz se arrepender por se envolver. E se quer saber está completamente certo!
E a culpa é o amor, esse sentimento dispendioso pelo qual passamos toda a nossa curta vida corredendo atrás e fugindo, chorando e sorrindo, sendo transparentes e mentindo.
Tenho algumas teorias sobre o amor. Mas não gastarei meu tempo falando elas. Quero dizer apenas que enquanto estava ocupado comigo mesmo e meus pensamentos reflexivos, pensei que o amor é como um cachorro. No começo é maravilhoso e você acha lindo. Ao passo que vai crescendo, você vai tendo alguns desgostos, se irritando algumas vezes, inclusive. Mas depois se apega de tal forma, que quando morre, você sente uma tristeza e um vazio profundo, mesmo achando que se trata de uma coisa tão pequena e de pouco significado em sua vida. Mesmo sabendo que amanhã você encontrará outro, e que o vazio será preenchido. Mas vazios assim nunca são preenchidos.
Quero dizer que neste exato momento estou triste e sentindo um vazio muito grande por causa da saudade dos meus cachorros que já morreram.




Andinho

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Velho Moinho

Cada homem é sozinho na casa da humanidade. Pode paracer bobagem, ou um clichê que tanto odeio, mas falo aqui sem rodeio sobre a disparidade desse mundo vão que atira como um canhão sobre a fresta do devaneio. Pode parecer meio vago, ou um tanto vazio, mas os versos que aqui nascem renascem na margem do rio da ignorância. Desde minha tenra infância, sinto o calor da maldade percorrendo cada idade por onde passei. Vi, revi, assisti e me comovi com essa população perdida. Reunida na frente da novela, fazendo oração e queimando vela diante da acentuada mentira calçada de uma rude beleza de pouco esmero.
Que escuridão é essa que brilha como luz ofuscante, desencaminhante de toda e qualquer paz mental? É o mesmo negrume que se transforma em anjo de boa aventurança, e que sob um capus de matança transforma o paraíso em um buraco infernal.
Eu odeio o estrelismo passageiro, o veneno certeiro que encanta a burrice duma mente vazia. Odeio o brilho que ludibria, que vigia, que se vicia em capas de revistas de pessoas que amanhã desaparecerão repentinamente. Repudio total e completamente essa gente falsa, esse orgulho imbecil que faz do seu redio um lado comovente.
Não bato palmas para artistas globais, políticos ou intelectuais que cagam na miséria do seu vizinho. Não apóio a falsidade, a desoriginalidade, e tampouco o pouco caso que fazem os que podem de certa forma agir. É uma vergonha se excluir, se inibir, e com maquiagem na cara amarela posar ao lado de modelo magrela apenas pra se exibir.
Sinto o pesar como uma desgraça se imprimindo, e em páginas vergonhosas colorindo um castelo de areia que cada vez mais está ruindo. Sinto saber que estamos todos sumindo, cada dia mais se afastando, se acabando, e partindo em estilhaços o que deveria estar inteiro e em igualdade.
Me sinto como um velho moinho, uma pobre passarinho, um pequeno sozinho na casa da humanidade.
Sinto caminhar numa ponte que está a ruir.
E finalmente me sinto só, mesmo ao lado de um milhão. Porque me vejo num mundo falido e sem pretensão, que amanhã de manhã deixará de existir.




Andinho