quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Eu que não gosto de saxofone



Relações amorosas são fadadas ao fracasso. Uma em um milhão sobrevivem, e por serem a minoria, compõe o seleto clã do final feliz dum conto trágico e ilógico.
Se fosse uma teoria, diria que pessoas são números opostos que tanto se repelem quanto se atraem, e que o x da questão está oculto numa equação irracional, cujo resultado exato e preciso é praticamente impossível de ser descoberto.
O amor é uma física desconexa, uma química incoerente e uma matemática sem sentido.
Se fosse uma teoria, se assim se apresentasse, claramente, evidentemente, seria muito mais fácil tentar estabelecer uma conexão chave e um resultado ideal, sabendo que haveria ali, no final de todas as contas, um conto... feliz!
Mas do contrário, relações amorosas são fadadas ao fracasso continuo, ininterrupto e frustrante.
Eu que nunca gostei de fazer contas, calculo agora nossas consequências juvenis. Eu que nunca gostei de ser brega, escuto música de coreto embalada por metais. Porque eu que não subo ao palanque dessa boba insensatez, que duvido do profano, que taxo tudo como vão engano, me vejo envolto várias vezes nesses mesmos números todos, e por vezes me pego discorrendo sobre essa mesma equação. Porque eu também sou inexato.




Andinho

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ébrio

Quem dera eu poder beber do cálice dos seus lábios, e no afago do teu perfume me cobrir do véu da tua alma. Cândido e sereno como a essência mais pura que parte de ti e invade meu âmago hostil.
Em outras terras és mais anil, rubro como paixão que desnorteia, virente como a esperança de tê-la para sempre em meus pobres braços trêmulos e vacilantes.
Quem dera me esconder em meus próprios pensamentos esvoaçantes, rasos como corais que embelezam os mares azuis, livres como aves que voam para longe de funestas tempestades.
Pois quero que sejas nuvem que me protege, fogo que me aquece, um refugo de vaidades, de vontades, do intrépido desejo de simplesmente tê-la comigo, não por apenas duas horas, dois dias ou duas semanas, mas até que o tempo se torne ápice da embriagues causada pelo seu doce cálice (que jamais possa se secar).
Seu amor é uma porção de rosas que dentro de mim jamais há de se murchar.





Andinho


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Tênue

O que pensas, o que dizes, a forma como se calas e a forma como se expressas através de uma linguística perfeita e cercada de palavras cujos significados são tão ofuscados e escondidos quanto sua própria natureza e essência de ser.
Afinal de contas, o que há de errado em ser tão errado assim?
Posso sair sem me você me empurrar. Ou talvez eu possa esbravejar, e com palavras desprovidas de bom senso armar um circo desguarnecido de graça e razão.
Tenho defeito, não é pra me gabar. E agora não estou mais aqui, e nem em qualquer lugar que possa me encontrar.
Na imperfeição de passos tortos, na contradição de vontades desconhecidas, no ímpeto do desejo, no desejo do ensejo de um placebo qualquer. É nesse exato roteiro excomungado que nossos atritos controversos não existirão mais.
O oposto me completa, o idêntico me detesta.






Andinho

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

There she stood in the doorway

Se eu entrasse por uma porta que me levasse diretamente a um hotel na Califórnia, poderia romper a barreira que me separa dispendiosamente das suas palavras sem sentido. E como um bem-aventurado bem-vindo, poderia, quem sabe, revelar o inóspito paraíso que você procura entre folhas de livros que parecem não ter fim.
Em nossas madrugadas quentes ou frias, trocaria todas as palavras e pensamentos dispersos por solos intermináveis de canções que penetram o âmago da sua natureza.
A sua natureza te convém. Como seu sorriso puramente casual, ou sua face que se cala diante de negatividades que por instantes parecem levá-la a um refúgio que não compreendo. Eu não sei se seus textos te prendem ou te libertam, se te arrastam pelo vale das sombras, ou se são asas angelicais que te fazem voar por um pacífico céu de baunilha. Mas são neles que eventualmente te encontro, nestes grilhões de chocolate que às vezes tornam amargo a sua doçura.
E você é várias, e ao mesmo tempo única, como de fato se espera da sua contradição (em termos).
Sensual é seu caráter.
Se eu entrasse por uma porta que me levasse diretamente a um hotel na Califórnia, poderia romper a barreira que me separa exclusivamente de você. 





Andinho