quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Velho Moinho

Cada homem é sozinho na casa da humanidade. Pode paracer bobagem, ou um clichê que tanto odeio, mas falo aqui sem rodeio sobre a disparidade desse mundo vão que atira como um canhão sobre a fresta do devaneio. Pode parecer meio vago, ou um tanto vazio, mas os versos que aqui nascem renascem na margem do rio da ignorância. Desde minha tenra infância, sinto o calor da maldade percorrendo cada idade por onde passei. Vi, revi, assisti e me comovi com essa população perdida. Reunida na frente da novela, fazendo oração e queimando vela diante da acentuada mentira calçada de uma rude beleza de pouco esmero.
Que escuridão é essa que brilha como luz ofuscante, desencaminhante de toda e qualquer paz mental? É o mesmo negrume que se transforma em anjo de boa aventurança, e que sob um capus de matança transforma o paraíso em um buraco infernal.
Eu odeio o estrelismo passageiro, o veneno certeiro que encanta a burrice duma mente vazia. Odeio o brilho que ludibria, que vigia, que se vicia em capas de revistas de pessoas que amanhã desaparecerão repentinamente. Repudio total e completamente essa gente falsa, esse orgulho imbecil que faz do seu redio um lado comovente.
Não bato palmas para artistas globais, políticos ou intelectuais que cagam na miséria do seu vizinho. Não apóio a falsidade, a desoriginalidade, e tampouco o pouco caso que fazem os que podem de certa forma agir. É uma vergonha se excluir, se inibir, e com maquiagem na cara amarela posar ao lado de modelo magrela apenas pra se exibir.
Sinto o pesar como uma desgraça se imprimindo, e em páginas vergonhosas colorindo um castelo de areia que cada vez mais está ruindo. Sinto saber que estamos todos sumindo, cada dia mais se afastando, se acabando, e partindo em estilhaços o que deveria estar inteiro e em igualdade.
Me sinto como um velho moinho, uma pobre passarinho, um pequeno sozinho na casa da humanidade.
Sinto caminhar numa ponte que está a ruir.
E finalmente me sinto só, mesmo ao lado de um milhão. Porque me vejo num mundo falido e sem pretensão, que amanhã de manhã deixará de existir.




Andinho