quinta-feira, 28 de abril de 2011

Paradoxo



Eu tento entender o mistério dos seus gestos complexos quando eu observo o universo pela luneta dos meus sonhos moderados. As estrelas calam minha razão, e uma galáxia longínqua me atira no buraco negro de um ciúme atrasado.
Suas palavras estranhas me fazem viajar em uma nave lunática, e eu sou astronauta da própria incompreensão que habita nosso relacionamento do talvez. Se eu fosse, se eu tivesse, se eu dissesse... Se eu me transformasse em poeira galáctica, e se no tempo eu voltasse, talvez, e nada mais que talvez, talvez, ainda a teria comigo.
Como se você fosse uma maria, e perto de você há ainda outras duas que habitam o céu da minha vida incompleta.
Vocês três me fazem viver numa linha tênue que cria dentro do meu próprio tempo a relatividade de um passado perdido, um presente indeciso e um futuro de probabilidades.
E é bem provável que nessa viagem maluca eu ainda me distraia com uma outra maria, que do alto de um céu um pouco mais distante cria esse paradoxo que me silencia diante de qualquer projeção passada, presente ou futura que eu possa fazer.
Minha vida é mesmo um universo em expansão pronto para ser descoberto. Vocês três, ou vocês quatro, fazem parte do sistema solar que aquece a projeção paralela que traço agora diante de uma tela plana e dentro de uma sala sem energia.
Não sei se estamos seguindo para uma colisão ou se você se tornará o satélite que me fará seguir girando sobre meu próprio eixo. O que sei é que quando te vejo eu simplesmente perco o sentido e saio completamente de órbita.









Andinho

terça-feira, 1 de março de 2011

Distante

Tenho medo da altura dos meus sonhos.
Eles às vezes zombam de mim quando me pedem para subir escadas de 20 ou mais degraus.
Meus sonhos riem do meu estado inerte, e minha acrofobia me deixa com cara de idiota.
Tenho medo da queda que machuca o espírito e esfola o amor próprio.
Estamos o tempo todo em busca da expiação, em busca do perdão de si mesmo, da reconciliação definitiva com aquilo que você tenciona ser.
Essa teatralização da vida vende um espetáculo de um futuro melhor que por alguns minutos pode se tornar apenas ilusório, ao passo que caminhamos para trás, buscando o amanhã no ontem sepultado em fotos velhas ou beijos que adormeceram no leito do "acontece".
Acontece. O amanhã é bonito quando não está distante. Mas sempre estamos distantes de nós mesmos.




Andinho

domingo, 23 de janeiro de 2011

6:50


Eu acordei em um mundo maluco! Eu tinha apenas seis, não conhecia vocês e não era adulto. Eu não usava roupa preta, ria de qualquer careta, ouvia qualquer parada, não sabia quem era Lennon, não tinha All Star vermelho nem usava calça rasgada.
Eu não tinha conta na internet, colecionava figurinhas de chiclete, jogava bola na rua e não pensava nela quando olhava para a lua. Também não escrevia canções, poemas ou qualquer soneto, nem me apaixonava por olhos verdes ou por seu sorriso perfeito.
Não usava email, web site ou rede social. Não imaginava dizer coisas a toa com 140 caracteres, seguir pessoas que nem conheço e viver uma vida virtual.
Tinha uma professora chamada Maísa, ouvia música infantil e não tinha ídolo que usasse roupa colorida. Usava boné e camiseta, não tinha calça verde, pôster na parede, franja na testa ou bermuda violeta.
No meu mundo sem conexão, cabo USB ou netbook casual, conversava chamando na porta, me divertia gritando na rua ou caindo de patins no meu quintal.
Se o passado é ultrapassado, sem graça ou irreal, não sei que mundo é esse onde acordei com um toque sonoro sem saber mais aonde moro, se estou perdido ou se fui achado.
Ou acordei em um mundo maluco, ou estou caduco na idade de vinte e seis. Avancei vinte anos da minha idade, e não sei se a realidade me trouxe a vocês, ou se foram vocês que vieram a mim.
Não sei se minha vida é simples ou futurista, se é um jogo de botão ou uma tela touch screen.





Andinho