terça-feira, 8 de setembro de 2009

Estranho

Ser o contrário do que se propõe. Seguir linhas tortas e quebradiças enquanto todos a sua volta circulam tracejados certeiros.
Eu não tenho qualquer compromisso com padrões estabelecidos. Não preciso gostar do azul, e nem cantar as juras da sua burrice. Não preciso estar a frente, ser comovente, ou provar o sabor do seu amargo.
Tudo o que preciso, e o que mais eu necessito, está aberto à liberdade que condiz com tudo que um dia eu mesmo tencionei. Ser estranho por aqui é contradizer a vontade alheia?
Então quem dera ser o mais esquisito de todos, e vestir roxo com óculos de marfim, e fazer do começo um instante tão rápido como seja o fim. Ser palhaço da ingratidão, e rir dos altos do seu descaso com o mínimo do desdém. E com uma coragem desgraçada, pular de salto e de cetim, pintando as pálpebras dos meus olhos e colorindo sua ingratidão.
Estranho em um mundo inteligente, ou inteligente em um mundo que não conheço?
Posso ter medo de subir degraus, e defenderei esse meu direito. Posso falar coisas que ninguém entende e fechar os vidros enquanto escuto alto uma canção.
Porque a vontade de fazer é o que sucinta o meu instinto, e calar-me diante da pressão é matar o orgulho que me sustenta e que alimenta a diferença que abriga a unanimidade da minha razão.





Andinho

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quatro





Embora eu não conheça muito bem o vôo dos pássaros, ou a complexa navegação dos barcos que viajam distâncias incríveis em jornadas diversas.
Poucos ou muitos, as pessoas que se acumulam e se juntam como aves ou meios de locomoção tem a incrível capacidade de andarem tão longe quanto querem ou desejam continuar. E não há céu que exista, e nem ventos que resistam à suave intuição de seguir o mais provável. E ir, apenas isso.
É claro que já não tenho a mesma certeza sobre seu rosto, ou sobre sua aparência e aparelho nos dentes. Nem mesmo posso dizer se ainda pinta quadros, ou se levou adiante as aulas de inglês.
A única certeza que tenho (e poucas tenho), é que o primeiro andar da minha vida continuará por um certo tempo com essa música de elevador quebrado que claramente me faz lembrar de dias frios e chuvosos que por fim se encerraram em uma única tarde do mês de julho (onde o destino não previu).
Não queria gastar minhas horas nesse roteiro repetido, mas é que algumas imagens sonoras fazem seu nome vagar na minha mente, assim, circunstancialmente.
Então eu lembro que a capa está em branco. E não há título, nem qualquer outra expressão que determine sua identidade. Apenas um número. Uma sigla. Uma referência discreta que me leva a descer dos ares por onde me perco e mergulhar nas profundas águas do meu eterno esforço para lembrar. Condicionalmente.








Andinho